quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Adopção

"Eu não quero mais filhos, ou melhor quero adoptar um de cor". Esta frase é praticamente um cliché, acho que todos já a ouvimos uma vez na vida, seja proferida por colegas, amigos, familiares, ou até escutada num qualquer transporte público. Eu ouvi esta frase por parte de uma colega já com um filho biológico. A minha reacção imediata era perguntar-lhe : " e de que cor queres?", porém o treino sistemático de filtrar o pensamento que sai do meu cérebro até proferir qualquer coisa pela boca está a dar resultados e não disse nada, até porque seria enriquecedor ouvir que outras pérolas essa minha colega teria para dizer. Essa decisão não se prende com qualquer vocação para ser mãe de coração, por querer ser mãe, mas ter qualquer trauma do parto, qualquer afinidade com algum PALOP. Não sei, simplesmente quer adoptar uma criança de cor... E eu já mãe, pensei na adopção.
Ser mãe de coração é aceitar de coração nas mãos uma qualquer criança, de qualquer idade, é despojar de nós mesmas projectos, idealizações e sonhos, é aceitar uma criança com um passado, com os seus traumas a juntar aos nossos. Ser mãe de coração é ver a adopção não como segunda escolha, mas como a escolha. Ser mãe de coração é respeitar os medos, silêncios, fracassos e vitórias de um filho que não tem os nossos olhos, nem mexe no cabelo como o pai. Quando pensei seriamente na adopção, percebi que agora só consigo amar os filhos que saem de dentro de mim e ganhei uma admiração e respeito cada vez maior por quem ama os filhos dos outros como seus.

1 comentário:

Medeia disse...

Nunca nos esqueçamos que quando uma criança é adoptada, traz com ela uma bagagem enorme, que desconhecemos e podemos nunca vir a conhecer. Não é uma afirmação que se diga de ânimo leve nem algo que se faça dessa mesma forma... é preciso estar preparado, porque ser mãe de uma criança que não é biologicamente nossa, traz mais dificuldades que possamos pensar. Necessário muito altruísmo e muita devoção...